sexta-feira, 24 de maio de 2013

SEXTA, 24 DE MAIO DE 2013



O CHEFE E O MAR

Fernando Albrecht
Editor da coluna Começo de Conversa do Jornal do Comércio e do www.fernandoalbrecht.com.br

Durante duas décadas o governo gaúcho manteve no Rio de Janeiro uma espécie de embaixada, teoricamente para auxiliar o Palácio Piratini em pleitos federais. O problema era que o Rio não era mais a Capital Federal, portanto não servia para rigorosamente nada em termos de governo-governo.
Abrigava pelo menos uma dúzia de funcionários, sempre comandados por alguém de confiança do governador e, como se dizia nos anos 60, “colimado com os objetivos da Revolução Redentora de 64”. Pois foi nomeado chefe do escritório um gaúcho de quatro costados, cantor de serestas, poeta, declamador e boêmio, não necessariamente nesta ordem. E, claro, homem da Revolução de 64. Soldado do partido.
No dia em que chegou no Rio para assumir o cargo, o jornalista Éldio Macedo aguardava o novo chefe no aeroporto Santos Dumont. Nos anos 60, Éldio foi dono de boate famosa em Porto Alegre, casa que hoje chamaríamos de danceteria. O jornalista então levou sua excelência para a casa gaúcha a bordo do Opala oficial. Lá pelas tantas do trajeto, vendo aquela água toda, o chefe botou a cabeça para fora da janela do carro e desandou a cantar.
- Copacabaaana, princesiiiinha do maaaar...
Éldio puxou o chefe de volta ao mundo real.
- Chefe, não é Copacabana, é a Lagoa Rodrigo de Freitas!
O homem fechou a cara. Durante anos, Macedo dizia não entender o motivo do chefe não lhe dava a mínima pelota. Mais do que isso, era inamistoso e até hostil.
Moral da história: nunca corrija um poeta da noite quando ele for seu chefe.

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