segunda-feira, 1 de julho de 2013

SEGUNDA, 1º DE JULHO DE 2013



A GAIVOTA JÁ NÃO VOA

Clóvis Heberle, jornalista -
http://clovisheberle.blogspot.com.br/

Os sonhadores que, no anos 60, idealizaram a sede da Sociedade dos Amigos de Tramandaí, a SAT, voavam alto. Não queriam apenas um lugar onde se encontrar, fazer festas e bailes, mas deixar para as futuras gerações um legado de beleza e bom gosto. O prédio, de estilo modernista, tem formas arrojadas, bem de acordo com o espírito do Brasil daqueles tempos, marcados pelo otimismo, pela certeza de dias melhores.  Refletia a Tramandaí da época: um balneário de poucos e pequenos edifícios e muitos chalés de madeira, onde as famílias passavam as suas férias de verão.
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Construído em estilo modernista, de formas arredondadas, o prédio se tornou um marco na arquitetura da cidade.




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Na foto acima, do arquivo do clube, um baile nos bons tempos
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Nos últimos anos, à medida que os costumes mudavam e os espigões se destacavam na paisagem da cidade, a SAT entrou em decadência. Em vez do salão cheio, apenas o silêncio.


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 Os sócios que frequentavam a piscina térmica e os alunos de natação e de hidroginástica sabiam que a situação financeira da SAT era difícil. A caldeira, aquecida a eletricidade, tinha custo alto e exigia manutenção constante, e as mensalidades, de R$ 60,00, não cobriam as despesas.  No início deste ano, a eleição da nova diretoria,  composta de moradores de Tramandaí e presidida por uma mulher,  deu-lhes um novo alento. Havia a expectativa de uma campanha para a recuperação do mais antigo clube do Litoral, fundado no dia 5 de fevereiro de 1945, com a ajuda da sociedade e do poder público. 


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 Pouco tempo depois da posse, começaram os boatos de que parte da sede estava sendo negociada com uma construtora para o pagamento das dívidas. A dura realidade veio na forma de tratores que derrubaram a área onde funcionava a boate. Antes que a gaivota erguida em pedra, o símbolo do clube, viesse abaixo, o Ministério Público pediu e obteve na Justiça o embargo da demolição, questionando o seu valor histórico e os interesses difusos em jogo.
Na primeira semana de  junho de 2013,  os funcionários trabalharam alguns dias sem energia elétrica, cortada por falta de pagamento. Sem saber o que fazer, fecharam as portas.
A gaivota já não voa. O sonho acabou.




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